Dia Cinza -
Téo Malvine -
. Hoje eu acordei e me deparei com o céu cinza, que por sinal refletiu na parede do meu quarto um cinza bem forte, quase preto, mas eu sabia que era cinza.
. O resto da casa não tava tão cinza, mas tava vazia, o que já implica num extenso cinza que ocupava todo o lar. Dei uma volta pela casa, nenhum recado preso por imas na geladeira, nenhum recado na caixa postal do telefone que já não dava sinal, fui ao banheiro lavar meu rosto, meus olhos pareciam cansados naquele espelho, mas eu me sentia bem. Resolvi subir de volta ao meu quarto.
. Pensando bem, melhor sentar aqui na sala mesmo. Pus minha carteira de Camel sobre a mesa _Aquele Camel da carteira cinza, sabe?_ e o meu isqueiro ZIPPO prateado bem do lado, prateado pra mim é quase um cinza, eu acho. Despejei num saco cinza as cinzas do meu cinzeiro e o pus de volta sobre o mármore cinza de minha mesa de centro, liguei o som pra ouvir um Blues. Eu disse "um Blues" não "um Grays". Foi aí que percebi que também não tinha energia, acendi um cigarro, peguei caneta e papel e me pus a tentar escrever.
. Pressionei meu cotovelo esquerdo sobre minha coxa com o punho fechado e apoiei minha cabeça sobre o mesmo com a intensão de obrigar meu cérebro recheado de massa cinzenta a produzir algo, mas depois de meia hora tudo o que havia produzido era mais cinzas pra deixar ainda mais cinza o meu cinzeiro cinza. Resolvi então voltar a dormir no sofá laranja de minha sala de estar.