quinta-feira, 15 de setembro de 2016

A Sombra do Garoto – "X" Parte

Adeus Dias de Glória -

O garoto já estivera junto de novo Mas agora, ao contrário de antes, prefere estar solto. O garoto encontrou os olhos Já por várias vezes em diferentes anos O garoto ja não é tão espirituoso Mas seus olhos ainda brilham pela luz que nunca se apaga no meio da escuridão. Ele descobrira que aquela luz não é a salvação Mas sim um convite para dias de perdição Que embora evite, jamais consegue negar-se. Agora ele se acha esperto Agora já não comete excessos Agora ele só vive o hoje Mas a luz é sempre um chamado do antes É nostalgia e calor. E o garoto lembrara que ama sofrer Que sofrer é ser poesia Que seu eu predileto chora e odeia o agora Que seu eu predileto escreve e, se puder, implora Lembrara de tudo o que mais lhe valeu viver. E o garoto lhe rasgara a pele, como se fosse vestes E o garoto desengasga o riso, como quem só quer isso E o garoto então cai e chora, sabendo que chegou a hora E empunha o lápis e repousa sobre a folha E se torna sombra, o que melhor sabe ser.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Vida e Morte de Um Qualquer

E então, no final de tudo, ou posso dizer num novo começo em curta metragem, você admite ter sido contaminado pelo vírus do narcisismo e percebe que viveu num mundo podado por si próprio e se tornou medíocre porque as pessoas idolatram aquilo que gostariam de ser e você se esforçou tanto pra ser aquilo o qual todos ao seu redor idolatram: um artista encontrado morto aos 27 anos, por overdose, no chão do seu próprio apartamento ou um Jesus crucificado aos 33 por ter superado a expectativa em 6 anos.



Imagem por Rafael Dias

domingo, 4 de novembro de 2012

Pesadelos e a Escuridão


Eu podia te dar um beijo a força e dizer quão lindos são teus olhos sob a luz fluorecente. Eu pensei em dizer oquanto é adorável quando você mente e até em mentir que entendo o que você sente, mas não quero plantar esperança onde não posso colher e o preço da minha vingança pode doer em você.

É verdade que te tocar me arde e pro meu corpo queimar o teu nem precisa estar quente, assim como sei que não vai esquecer de mim, mesmo que não se lembre. É bobagem teimar em se mostrar valente. Só queria outra vez tua dança pra me entreter, mas abdico dessa ciranda, já posso nem te ver mais.

Se isso é tudo o que quer, agora é tudo o que tem e eu, que só queria te fazer feliz, agora duvido que te veja bem. O medo do escuro é na verdade um pesadelo sobre solidão. Saiba que isso não acaba quando a luz se acende.

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Se For Por Bem, Abdico

Um sorriso inocente para se guardar e a segurança nos olhos para se esconder. Na mesma gaveta em que eu guardo minha certidão de óbto, guardei o que existe em ti que me ofende, a minha presença nessa ausência tua.

Há dias que não tomo as doses de ti, há dias que não sinto que te fiz sorrir o sorriso inocente que tanto te guarda, sem teus beijos brutais que arrancam pedaços, nem as partes de roupas no chão do meu quarto ou a tua voz rouca no pé do meu ouvido. São coisas que, por bem, eu até abdico, mas é essa distância que me faz inimigo do meu próprio sorriso.

Da coletânea 'Lágrimas, Pra Que Te Quero?'.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Menino Que Sabia Voar


Eu não quero princesas, nem donzelas, todas tão crescidas. Não interessa quão belas ou adoráveis possam ser, elas dançam conforme a música e a música tá lenta demais. Além disso tem dragões e castelos, madrastra má e todas essas burocracias.

Eu prefiro as garotas piratas, saqueadoras de corações e contadoras de histórias. Elas são tão sonhadoras e sempre tem um só beijo escondido para dar e milhões de dedais, até não faltar. Eu prefiro voar entre as nuvens, ou pelas estrelas dos olhos de noite de lua cheia.

Só que assim, com os pés fincados no chão, teu medo se torna meu medo e me puxa feito ancora, e me obriga a olhar por cima, a ver gigante, como eu tô grande, como eu sou triste. Assim eu não levito, não acredito e nem te levo comigo.

sábado, 11 de agosto de 2012

Espelho D'Água

Ela odeia a ideia de estar em minhas mãos
Mas adoraria cair em meus braços
Entre mil abraços em um só colchão
E se perderia, ora neste espelho azul
Ora neste mesmo espelho verde
Tão difícil de se distinguir.

Eu sou um navio e ela é o meu timão
E o vento que sopra minhas velas
Se eu digo isso no ouvido dela
Ela quer se desmanchar
Se desfazer feito poeira no ar
Sumindo entre meus dedos
Fugindo dos abraços.

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Aquele Mesmo Vaso Velho -


Era um dia ruim como qualquer outro, ruim como as músicas que eu andava compondo e minhas expressões eram tão tristes quanto um sorriso britânico em dia de inverno, daqueles em que se usa gorro, luvas, cachecol e sobre-tudo. Nenhuma das mulheres da minha vida poderiam me confortar nesse dia, nem o sorriso mais angelical ou o olho que mais brilhava. Eu só queria escutar o desconfortável som da ponta de carbono rasgando o branco da folha de papel ou os ruídos da agulha da vitrola arranhando o vinil, eu só queria ter certeza de que estava sozinho. Porque naquele dia descobri que a sombra era pouco pra mim, que eu era toda a escuridão, sem sentidos, num lugar onde não se pode olhar, nem cheirar, nem tatear ou ouvir, não havia o que ouvir e por mais que eu pudesse gritar, não havia também quem me ouvisse.


Não havia solidão que me fizesse acender um cigarro, nem sede que me fizesse levar à boca um gole de vinho gelado, não havia salgado, doce ou amargo na língua, nem havia dó, receio, medo ou frenesi, nem sentidos nem sentimentos. Pela segunda vez na vida eu me senti vazio, como se estivesse com um furo bem na base, de onde tudo vazava, jorrando com força total, saindo de mim para um imenso vácuo, sendo puxado pra dentro de um buraco negro onde tudo isso seria triturado enquanto eu ficava apático, sentado naquela cadeira e tentando me concentrar na sonora sensação da ponta de carbono ou da agulha no vinil, mas isso também já havia ido embora junto com “todo eu”.


Foi aí que decidi me levantar e logo caí a uma distância mínima da cadeira, então me levantei novamente e tornei a cair, e assim fui levantando e caindo repetidamente, cada vez mais longe da cadeira, tentava me manter levantado e não o conseguir me frustrava, e com a frustração me enchia de tristeza e voltava a me sentir vivo, triste e vivo, porque o ser humano é como um vaso e a tristeza é o estrume, todos os outros sentimentos nascem dela e nos motivam a procurar novas sensações. Então eu levantei, acendi um cigarro, peguei uma cerveja na geladeira e saí de casa pra explorar minha tristeza e conhecer o mundo.


(Téo Malvine)